Unir tecnologia, rentabilidade e propostas sustentáveis de produção e consumo. Essa é matriz das cleantechs, um segmento dentro do ecossistema de startups que está sendo considerado o mercado do futuro. Relatório divulgado pelo Smart Prosperity Institute – rede de pesquisa da Universidade de Ottawa, no Canadá – aponta que, até o fim deste ano, as cleantechs valham US$ 2,5 trilhões de dólares em todo o mundo. Até 2030, a previsão é que o investimento no segmento seja de US$ 3,6 trilhões.
Conhecidas também como startups verdes ou de tecnologia limpa, as cleantechs são empresas que buscam reduzir ou eliminar impactos ecológicos negativos. O Mapeamento Cleantech 2021, da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), aponta que existiam, no ano passado, 177 empresas ativas no país. O Estado de São Paulo concentra o maior número (29,4%), seguido de Minas Gerais (12,7%) e Rio de Janeiro (10,8%). “O Sudeste é um dos polos econômicos mais aquecidos do país, logo, o percentual de 56,9% da distribuição regional é equivalente a este cenário”, descreve o estudo.
As cleantechs podem ser divididas em oito categorias: energia limpa, ar e meio ambiente, água, agricultura, indústria limpa, armazenamento de energia, eficiência e transporte, sendo a maioria focada em energia limpa.
A média de fundação dessas startups é 3,2 anos, sendo que 22,5% possuem menos de 1 ano. Cerca de 17,7% têm mais de 5 anos no mercado, o que justifica o número expressivo das que estão na fase de tração - estágio que apresenta o maior índice (33,3%). O relatório reforça que é nesta fase que as startups estão em busca por crescimento, à procura de parcerias para investimentos e aportes para aumentar a carteira de clientes. A categoria que mais se encontra nesta etapa é a de ar e meio ambiente.
“O empreendedorismo em nosso país é uma grande força de inovação e se barreiras burocráticas forem superadas teremos um bom cenário para uma ampliação do setor. Há muitas oportunidades no setor de saneamento, agricultura e energia. A transição energética imposta pelas mudanças climáticas, o enorme gap de saneamento e a relevância do agro no Brasil, que precisa produzir com rastreabilidade e proteção ambiental, são os grandes demandantes de soluções”, afirma Leonardo Dutra, líder de consultoria na área de Mudança Climática e Sustentabilidade da EY.
Do total de empresas mapeadas, apenas 32,7% receberam algum tipo de investimento (principalmente de investidores-anjo e programas de aceleração). Outra constatação é que 40% das cleantechs ainda não têm faturamento. Além disso, 33% dessas empresas atuam no mercado sem concorrência e mais de 70% atuam com o modelo B2B (business to business).
“Os desafios não são diferentes de qualquer negócio iniciante. A alta carga tributária, falta de investimento e ambiente burocrático são os grandes empecilhos ao aparecimento, e sobrevivência, das techs”, explica Dutra.
Soluções ESG
Analistas do mercado de startups mapearam cerca de 800 negócios de base tecnológica com soluções em ESG no Brasil, no ano passado. Uma delas é a cleantech Trashin, que faz gestão de resíduos da coleta seletiva ao descarte. Sua plataforma digital conecta geradores de resíduos a cooperativas de reciclagem e indústrias de transformação.
De acordo com o CEO da Trashin, Sérgio Fingir, a ideia surgiu em 2012, em um hackathon internacional chamado Webdesign International Festival. O desafio proposto era encontrar soluções de problemas socioambientais, unindo sustentabilidade e tecnologia. “Na época, dois dos atuais sócios da Trashin participaram da equipe que propôs a criação de um sistema que trocava resíduos por dinheiro para ser utilizado em um e-commerce de produtos sustentáveis”, conta.
O projeto, realizado em 24h, foi um dos 15 selecionados globalmente para realizar a final presencial na França, demonstrando a relevância do tema e a atratividade da solução proposta. “No entanto, o projeto ficou guardado até 2018, ano em que a ideia começou a ser tirada do papel, por meio da incubação no Instituto Federal do Rio Grande do Sul”, afirma.
Fonte: Líder.Inc