20 de junho de 2022
Indicador ABRAINC-Fipe registrou aumento de 109% nas vendas e de 35% no número de lançamentos no primeiro trimestre deste ano em comparação ao ano passado
A máxima do setor imobiliário de que o valor real de um imóvel não se limita a seu preço de mercado, mas à plena satisfação de um desejo, está mais uma vez comprovada. É o que demonstram vários índices de desempenho da construção civil no segmento residencial de alto luxo, o mais recente deles, o Indicador ABRAINC-Fipe. O estudo apontou que, nos três primeiros meses deste ano, o volume de imóveis vendidos no país dobrou em relação ao mesmo período do ano passado: passou de 4.571 para 9.553 unidades de médio e alto padrão, o que equivale a um crescimento de 109%.
No quesito lançamentos, os números do primeiro trimestre de 2022 mantêm a curva de expansão, com aumento de 35,6% em comparação a igual período do ano passado: 10.013 novas unidades dentro da classificação médio e alto padrão. Mais especificamente no segmento de luxo e alto luxo. Pesquisa da consultoria Brain Inteligência Estratégica, realizada em janeiro e fevereiro, já havia confirmado a tendência de crescimento no volume de lançamentos, com uma taxa de 14% em relação ao primeiro bimestre do ano passado.
Para o presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC), Luiz França, a excelente performance do setor, a despeito da conjuntura adversa (taxa de juros elevada e altos índices de inflação), deve-se ao caráter de proteção financeira proporcionada pela compra de um bem imóvel. “O brasileiro vê a compra do imóvel como uma forma de proteger parte do patrimônio da alta inflacionária, assim como de obter ganhos reais no longo prazo”, afirma.
Segundo França, em razão da valorização maior, o mercado imobiliário voltou à preferência dos investidores em detrimento até mesmo das aplicações financeiras tradicionais. E, para reforçar sua tese, ele cita outra pesquisa recente da Brain, realizada em parceria com a ABRAINC, na qual 34% dos entrevistados revelaram a intenção de comprar imóveis nos próximos 12 meses.
Mas, na avaliação de especialistas no mercado, toda essa movimentação no segmento de luxo e alto luxo ainda é resultado do processo de ressignificação da moradia provocado pelo isolamento social imposto pela Covid-19. É o que afirma o diretor de Lançamentos e Operações da Bossa Nova Sotheby’’, João Roberto Balan.
“As pessoas repensaram seus valores e, ficando mais em casa, começaram a reparar em muitos aspectos que antes passavam despercebidos. Estamos falando de um público formado por altos executivos e por empresários de grande relevância, pessoas que sempre trabalharam mais de 14 horas por dia e viviam de uma cidade para outra, passando pouquíssimo tempo em casa”, analisa.
Segundo Balan, toda essa reflexão sobre “morar bem” vem levando a mudanças, seja para um ambiente maior que, além de conforto e da sofisticação, comporte espaço para a prática de um hobby — ou, na outra ponta, para um empreendimento menor. “Algumas pessoas concluíram que não precisam mais de tanto espaço e estão saindo de uma casa ampla e com muitos cômodos para um apartamento de luxo de 400 metros quadrados, por exemplo”, ilustra.
O executivo argumenta ainda que hoje a decisão de “como e onde” morar é tratada com prioridade pelo cliente, que também não mede esforços ou recursos para satisfazer plenamente seu desejo. E, dentro desse contexto, o fator exclusividade tem grande peso na valorização do imóvel. Como exemplo, ele cita um empreendimento de luxo no Itaim Bibi, que era comercializado por R$ 25 mil o metro quadrado e agora recebe ofertas de até R$ 50 mil. “Mesmo assim, ninguém quer vender.”
Essa efervescência no segmento de alto padrão, aposta o executivo da Bossa Nova Sotheby’s, deverá se manter pelos próximos anos, com a movimentação de incorporadoras e construtoras em busca de oportunidades para o lançamento de empreendimentos de luxo com muita sofisticação.
“Quem conseguir lançar produtos em regiões valorizadas, e dentro de um alto padrão arquitetônico, vai continuar chamando a atenção desse público, porque são produtos irreplicáveis, especialmente em razão da escassez de terrenos”, conclui.
Fonte: Valor Econômico
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