12 de setembro de 2022
Se não forem contidas, as mudanças climáticas podem acarretar um total de US$ 17 trilhões em perdas econômicas para a América do Sul, em termos atuais, até 2070. O impacto representaria uma redução de 18 milhões de empregos. A produção industrial perderia US$ 3,5 trilhões; o varejo e o turismo, outros US$ 2,3 trilhões. E essas são apenas algumas das consequências de eventos climáticos extremos, com potencial para pressionar inúmeros sistemas, como os de agricultura, saúde, manufatura, infraestrutura e finanças.
Por outro lado, se até 2045 o território alcançar perto de 90% de descarbonização, a partir de meados da década de 2060 o continente atingiria seu ponto de virada, como resultado de um investimento capaz de acelerar inovações e ações em pesquisa e desenvolvimento. Assim, será possível viabilizar a implantação de ferramentas fundamentais para tornar o investimento em tecnologia limpa atrativo para o financiamento privado.
O benefício líquido dessa transição seria o crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2070, ou US$ 150 bilhões, que teria o potencial de aumentar a cada ano subsequente. Com isso, 2 milhões de empregos seriam gerados a mais, na comparação com um cenário de emissões intensas e perda de ativos em decorrência das mudanças climáticas. O investimento realizado ao longo de 25 anos seria recompensado.
A análise foi desenvolvida pelo Deloitte Economics Institute para o relatório “Um novo clima econômico na América do Sul”, apresentado durante o Fórum Econômico Mundial 2022. O estudo reconhece a importância que a industrialização com base em uma economia de carbono teve, ao longo do século 20, para a região alcançar o desenvolvimento econômico. Mas aponta que este é o momento da virada, a fim de garantir um roteiro viável, sistematizado e escalonado para conduzir a região para um novo caminho de crescimento.
Ou seja: este é o momento de tomar decisões sobre políticas públicas e investimentos privados que vão definir os rumos da América do Sul ao longo dos próximos 50 anos, e mesmo além. Enquanto os efeitos das mudanças climáticas já são sentidos, é chegado o momento de desenvolver e implementar soluções inovadoras e coordenadas. Ou então as consequências serão irremediáveis – para as pessoas, para a sociedade e para os negócios. E a tecnologia e a inovação são cruciais para contribuir com esse processo.
Papel do Brasil
O foco em descarbonização se constrói com base em uma nova mentalidade, em que os investimentos precisam ser direcionados em iniciativas de pesquisa e desenvolvimento, capazes de viabilizar a implementação de tecnologias e ferramentas necessárias para que os impactos positivos se prolonguem além dos próximos anos.
Além disso, o aspecto regulatório exerce um papel crucial. As metas de neutralidade de carbono para 2050 precisariam ser legisladas em todos os países da América do Sul – o que pressionaria o Brasil a antecipar em uma década sua meta "net zero" atual, estabelecida até 2060.
O relatório dedica uma atenção especial ao Brasil. Dos 430 milhões de habitantes da região, praticamente metade reside no País, que também ocupa 47% da área e produz 49,4% do PIB. Seu papel é, portanto, crucial para o desempenho da América do Sul como um todo.
É no Brasil que fica 60% da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, que vinha desempenhando um papel vital como sumidouro global de carbono. Mas o desmatamento e as mudanças climáticas transformaram parte da floresta, em especial a porção leste, em fonte de emissões de carbono, de modo que ela, hoje, libera mais carbono na atmosfera do que absorve. E o País tem uma enorme responsabilidade diante desse cenário.
Por outro lado, pode também se beneficiar de ações concretas no sentido de reduzir o desmatamento. Seu “capital natural” tende a ganhar valor à medida em que o planeta aquece. Afinal, a nação abriga 20% da água doce do mundo.
Como aponta o relatório, apesar dos desafios complexos, o Brasil mantém seu potencial de ser líder na transição global para um mundo resiliente ao clima. Com vistas a um futuro de ações climáticas ambiciosas, é preciso já preparar o terreno para uma rápida descarbonização ainda nesta década.
Fonte: Deloitte: texto publicado no Valor Econômico
Fique por dentro de tudo o que rola no setor!